quarta-feira, 24 de julho de 2013

Cafarnaum-Ba a outra história

Manuel Bispo da Cruz (vulgo Manoel da Cruz) residente no arraial de Morro do Chapéu lá pelos idos de 1880 herda de seus pais THOMÉ BISPO DO NASCIMENTO e dona PERSILINA MARIA DO ESPÍRITO SANTO, uma porção de terras que se ramifica com uma das vertentes da vereda Romão Gramacho. Manuel da Cruz, homem trabalhador, era vaqueiro de Zé Gabriel (um rico fazendeiro daquela cidade). Seu pai Thomé, com muito esforço adquire de Felipe e Sebastião Cedro seus primeiros proprietários pelo valor de dois Mirréis, nos meados do século XVIII, uma área de terras que incluía toda sede do hoje município de Cafarnaum, com as seguintes delimitações:

Seguindo-se da Lagoa do Caititu (hoje Caititu) que na época já era habitado, seguindo-se a leste o lugar chamado Melancia, seguindo rumo ao sul delimitando-se com o lugar chamado Lapa Cercada próximo à pedra do Estrondo (uma grande pedra que se encontra dentro da vereda, que segundo informações dos mais velhos no ano de 1906 ela despencou do alto da serra causando um enorme estrondo e dando um baita susto em todos que por ali passavam, outra versão vai, além disso, muitos acham que foi a queda de um meteorito, alguns habitantes da época descrevem que viram um clarão no céu, em seguida o estrondo) daí seguindo até ao poente fazendo extrema com o lugar chamado Lagoa do Barro e este sobe rumo ao norte novamente encontrando o caititu, toda essa área formava um quadro de mais ou menos uma légua quadrada (06 km2) a partir do Olho D’água para todas as direções norte, sul, leste e oeste, e a cidade hoje fica localizado bem no centro desse quadro imaginário.

Toda essa área pertencia a um único dono, mas com o tempo foram chegando varias famílias que iam comprando ou até mesmo ganhando pequenos lotes de terras para sua subsistência.

O velho Cruz como era chamado um mulato folgazão que gostava de muita fartura e de muita festa, já que sua casa estava sempre repleta de gente de todo jeito, quando vinham ao arraial de Cafarnaum, já sabiam onde ficariam arranchados, uns dizem que ele nasceu para criar filhos dos outros já que não tivera nenhum herdeiro legitimo de seu matrimonio, com dona Aurélia. Outro que não deixara herdeiros foi seu irmão Domingos Cruz, que morreu sem se casar, uma peculiaridade dele (Manuel da Cruz) sempre foi a de impressionar a todos que estavam ao seu redor, para lhe garantir respeito e prestigio, foi aos poucos assentando gente de diversas partes da Bahia sem saber suas referências podiam ser ladroes, marginais e jagunços, bastava ele se afeiçoar com o individuo que logo em seguida ia dando-lhe autorização para plantar e morar em suas terras.

As invasões da terra

Manuel da Cruz vendo que suas terras além de estarem numa área privilegiada de ligação entre os grandes centros da época (Jacobina, Ruy Barbosa, Senhor do Bomfim, Brotas de Macaúbas) e do sertão adentro, começou a distribuir lotes de terra, e autorizar a construção de casas dentro de parte de sua propriedade, esta já estava bem habitada e também para evitar mais ainda as invasões. Área esta que compreende atualmente a conhecida Praça Pedro Guimarães. Por aqui passavam tropeiros, viajantes e o melhor local para o descanso era nosso avermelhado povoado, reparando bem, as distâncias de um lugar a outro, eram enormes para aqueles tempos, gastava-se quase um dia para Canarana, para o Morro do Chapéu então nem se fala, Jacobina uns dois dias, certamente destas adversidades nasce o povoado de Cafarnaum.

A origem do nome

Começou então o progresso do arraial, que fique certo do conhecimento de todos que o desbravador de Cafarnaum foi sem dúvidas nenhuma, Manuel da Cruz sem sua influencia e incentivo, talvez não tivéssemos nem chegado à metade do que é Cafarnaum, até mesmo quanto ao nome da cidade é ideia originalmente do colonizador de Cafarnaum. Manuel da Cruz logo assim que herdou as terras, ficou em dúvida de qual nome chamaria a nova fazenda. Felipe Cedro lhe opinou mandando-lhe colocar o nome de “Fazenda São Domingos”, mas Manuel da Cruz recusou-se imediatamente e disse-lhe que não iria dar nome de um feriado santo a sua fazenda, então se lembrou de um nome que lhe agradava e alguma vez ouvirá falar, este nome era “Cafarnaum”, houve protestos, pois falavam que Cafarnaum era a cidade amaldiçoada da Judéia, mas de nada adiantou e acabou ficando mesmo o de sua escolha. Portanto o nome da cidade é assim pronunciado por que Manuel da Cruz, dono e desbravador dessas terras quis que ela se chamasse assim e não por que existam furnas e cafurnas como crescemos acreditando ser. No inicio da colonização de Cafarnaum os antigos moradores pronunciavam Cafarnaú devido a uma corruptela de linguagem.

Manoel da cruz era um mulato caboclo de baixa estatura, totalmente analfabeto, não tinha filhos legítimos, eram um homem de muita riqueza, caracterizado no principio de bens daquela época, tempo no qual quem tivesse algumas cabeças de gado e pequenas propriedades já seria muito respeitado.
Cruz abriu muitos espaços para pessoas muito espertas, o que se sabe é o seguinte: vendo o crescimento do povoado, certas pessoas chegavam lhe dizendo querer comprar-lhe pedaços de terra e na hora de delimitar marcavam como queriam, tiveram espertalhões que compraram grandes partes de terra e pagaram com rapadura, fumo, cachaça, querosene e outras quinquilharias aproveitando-se do velho Cruz,numa época em que a justiça praticamente não existia por esses, então, longínquos sertões.

Deixemos estas arbitrariedades de lado e voltemos a nosso anfitrião. Apesar de negro, Manuel da Cruz não teve o destino de ser escravo, pois desde a época de sua mãe que já era uma negra liberta teve a sorte de não ser cativo, conta-se que só sua avó, logo assim que chegou da África foi escrava, mas foi comprado por um rico e bondoso homem com o qual conseguiu em pouco tempo sua alforria.

Morou a maior parte da sua vida no local chamado “Outro lado” de Cafarnaum (Cafarnaunzinho) onde era a sede de sua fazenda, depois seus afilhados foram crescendo, casando, indo embora, então Velho Cruz fica viúvo e se torna um homem solitário abandonado por tantos que ele ajudou a criar desconsolando vai morar numa toca (gruta) na parte interna da vereda, parte essa que hoje leva o seu nome “Cruz”, viveu até avançada idade. Dona Elília Alves de Souza ainda o conheceu, era seu bisavô.

A decadência de Manuel da cruz

Depois de instalado o povoado, o Velho Cruz já debilitado e sem sua sanidade mental, como toda sua terra já tinha se esvaído de seu domínio e não vendo ninguém mais para poder lhe auxiliar, se exila dentro de uma toca não querendo mais a presença de ninguém por perto, se exila definitivamente de todos aqueles que certamente direta ou indiretamente ele ajudou, e para entrar no ostracismo da história, seus últimos dias se dão de fora tão lastimável, que seu sobrinho Leonel Molhado vendo-o naquela situação dentro de uma gruta sem forças, saúde abalada, a idade avançada (na sua morte estima-se que ele estivesse com mais de 95 anos) na margem da vereda, vai busca-lo nos ombros, apesar de toda resistência que Manoel da Cruz fez, não tinha forças para nada, estava absolutamente na ânsia da morte, chegando ao Cafarnaunzinho, Leonel Molhado o coloca em cima de uma cama, mas ele não queira de forma alguma dizia repetidamente que queria morrer no chão, então colocaram uma esteira feita de palha e o deitam ao chão, mas ele vagarosamente retira a esteira e se deita totalmente no chão de barro batido, enrolado numa coberta grossa ele dá seu último suspiro, morre o desbravamento de Cafarnaum.

Entram em cena as famílias: Barreto, Sapateiro, Tomes, Cruz, Cedros, Ribeiro da Fonseca, Boaventuras, Brotas, Novaes, Caboblos, Gonçalves, Martins dos Anjos, Antônio Borêta,Odilon Costa, Paulino Nascimento, Eduardo Barreto, Balbino Barros, Alves Vitor, Cândido Moraes, e outras famílias, mais isto tudo ocorrido mais ou menos entre 1870 e 1920. Então os responsáveis pelo povoado erroneamente não se importaram em organizar-se, se preocupando em resguardar às suas memórias. 

BARRETO, Leandro. A História de Cafarnaum. Origem das terras de Cafarnaum. Os Primeiros Proprietários. Nossa História. Edição Especial – 50 anos de Cafarnaum. Pág. 

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